terça-feira, 21 de junho de 2011

No cume calmo do meu olho que vê


"Eu devia estar contente/ Por ter conseguido/ Tudo o que eu quis/ Mas confesso abestalhado
Que eu estou decepcionado... (...) Eu que não me sento/ No trono de um apartamento/ Com a boca escancarada/ Cheia de dentes/ Esperando a morte chegar..." Raul Seixas


O que Raulzito e Darwin têm em comum? Ambos, depois de baterem as botas, passaram uma temporada no umbral. Não sou espírita, mas assisti ao filme “Nosso Lar”, e tive a impressão de que aqueles que não se adaptam muito bem à vida na Terra acabam passando por lá. De qualquer forma, esses ilustres homens sofreram nas suas passagens por aqui, porque eram uns desajustados. Como eles, existem milhares, inadaptados, incompreendidos... Ainda mais agora, em que depressão, síndrome do pânico, terapia e fluoxetina foram democratizados.

Esse assunto já está batido, afinal, sofrimento, tristeza, melancolia e inadaptação estão aí há tempos. Desses sentimentos se alimentaram muitos pintores, compositores, escritores, poetas, filósofos, cientistas e políticos. O problema é que hoje, mais do que nunca (dizem), temos que ser felizes sempre e, mais, mostrar a todos essa nossa felicidade. Cobrança desumana: é humanamente impossível estar sempre alegre e satisfeito; não ser ou estar feliz causa ainda mais dor.

Apesar de batido, esse tema ainda dá pano pra manga. Qual a diferença entre felicidade e alegria; introspecção e melancolia; entre tristeza e depressão; amargura e indignação? Qual a diferença entre ser realista ou pessimista; crítico ou chato? Por que consideramos defeito o que não produz prazer?

A dor incomoda e sempre incomodou, mas a sua utilidade vai além dos poemas, dos sambas e boleros. A insatisfação gera mudança, ou pelo menos tenta gerar e, com isso, a Terra segue girando. A introspecção faz a gente parar, ponderar, criar. Os críticos são chatos, mas têm sua serventia! Colocam o dedo na ferida, fazem a gente pensar. O pessimista nos mostra o outro lado, coloca nossos pés mais próximos do chão (pena que às vezes erra a mão e nos enterra...).

Diferenciar e respeitar esses sentimentos ou características é igualmente importante. Ajuda a gente a se conhecer melhor, a se aceitar mais, a tentar controlar nossos excessos e, quem sabe, a direcionar nosso incômodo à ação e à mudança.  

Vendo “Nosso Lar”, entendi também que o umbral é onde começam o auto-conhecimento, o perdão, a aceitação. Mas pra que esperar partir?

E apesar de Darwin ter concluído que quem não se adapta dança e que o legal é se adaptar, o que seria de nós, humanos, sem os inquietos e polêmicos desajustados?

10 comentários:

  1. Acho que você está esquentando. Gostei muito deste post!

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  2. Muito bom,titita. Gostei!!! Beijos.

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  3. Filósofa....Escrever também depende do estado de espírito, né? Hoje sai um bom texto, amanhã, nem tanto! Keep walking! bjs.

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  4. Así es la vida... E às vezes o q agrada um, não agrada o outro... Escrever não é difícil, difícil é escrever pros outros lerem, mas até q tô gostando do exercício..

    Sobre escrita e leitura, dois trechos de Mário Quintana:

    "A gente pensa uma coisa, acaba escrevendo outra e o leitor entende uma terceira coisa... e, enquanto se passa tudo isso, a coisa propriamente dita começa a desconfiar que não foi propriamente dita."

    "Há leitores que acham bom o que a gente escreve. Há outros que sempre acham que poderia ser melhor. Mas, na verdade, até hoje não pude saber qual das duas espécies irrita mais."

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  5. Adorei titita!!! Ainda quero praticar o exercício da escrita livre.

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    1. Oi, amore!! Que bom ler um comentário seu!! É ruinzão a gente escrever só por obrigação, né?! Vai praticando com textos bem pequenos, como aquele sobre a Filosofia Binhoniana! Vc leu esse? A prima na mesa da cozinha é vc! Bjão, Carol!

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  6. Muito bom Lê. Não vai parar de escrever igual seu pai.

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    1. Oi, Lenilson!!! Obrigada!!! Ando um tanto sem inspiração ultimamente! Assim que ela voltar, eu volto a brincar aqui no blog! Bjs!!

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