quinta-feira, 9 de março de 2023

Dia Internacional da Mulher



Nasci numa família "atípica". Meus pais, primos de primeiro grau, tiveram dois filhos (gêmeos) e, logo em seguida, cometeram a grata falta de juízo em me trazer também ao mundo. Meus irmãos nasceram bem prematuros. Ao André faltou desenvolver um pouco mais os pulmões, o que o rendeu uma vida de 32 anos sem poder andar ou falar. Ao Fábio, um inesperado e raro fenômeno genético o carimbou com uma síndrome, que o fez, mais tarde, não enxergar. Mas André desfrutava a música como ninguém e se comunicava através do corpo, das expressões faciais, do sorriso e, principalmente, do olhar. E Fábio não só fala e canta bem, como escuta muito bem. Entende bem o que está acontecendo ao seu redor, usando a sua excelente antena parabólica. Reconhece a quilômetros de distância o som de um pacote de biscoito se abrindo ou do girar da tampa de uma garrafa de refrigerante! Na pandemia, começou a ouvir livros na "Alexa", o que se tornou o seu novo e preferido "hobby". Graças a esta amiga, já pôde ler mais de duzentos livros. 

Antigamente, não dizia que meus irmãos eram "atípicos". Os termos eram outros. Foram e vão mudando com o tempo. A ideia, que historicamente evoluiu para melhor, foi a de que eles precisam ser reconhecidos como pessoas que são, que precisamos olhar também para as suas capacidades e atacar as deficiências e as faltas da sociedade. Voltando aos termos, antes, dizia que meus irmãos não eram "normais", que tinham "problema", que eram "especiais". Sobre minha mãe, dizíamos que era "guerreira". Teria um mundo de coisas pra falar sobre esse ponto, com outras perspectivas, mas vou ao que me interessa agora, com um olhar mais terno: o afeto feminino.

Nasci e cresci mergulhada neste rio de afeto. O cuidado da minha mãe (e das cuidadoras do meu irmão) conosco. E, também, o meu cuidado com os meus irmãos. Amava cuidar e me sentia honrada por ser a irmã deles.

No ano em que o André morreu, mergulhei por outras águas deste afeto. Com a Nina e com o câncer, aprendi ainda mais a cuidar e a ser cuidada. E, neste momento, minha mãe e a cuidadora do meu irmão cuidaram de mim e da Nina, ao mesmo tempo.

Ontem, dia 08 de março, foi o Dia Internacional da Mulher. Tive um dia bem cansativo. Alguns imprevistos no trabalho e tive a sorte de receber a ajuda da minha sogra e cunhada, com a Nina. Elas já vão embora na semana que vem - voltam para o Peru - e sentirei saudades de toda a ajuda que me deram nesses dias. No meio da confusão, ontem, pensei um pouco no "cuidado feminino" na minha vida. E acho que seria muito bom se pensássemos mais (e com mais cuidado) sobre esse cuidado, nas nossas vidas.