Titita Ina
segunda-feira, 9 de outubro de 2023
Outubro rosa: vida pós-câncer
quinta-feira, 9 de março de 2023
Dia Internacional da Mulher
Nasci numa família "atípica". Meus pais, primos de primeiro grau, tiveram dois filhos (gêmeos) e, logo em seguida, cometeram a grata falta de juízo em me trazer também ao mundo. Meus irmãos nasceram bem prematuros. Ao André faltou desenvolver um pouco mais os pulmões, o que o rendeu uma vida de 32 anos sem poder andar ou falar. Ao Fábio, um inesperado e raro fenômeno genético o carimbou com uma síndrome, que o fez, mais tarde, não enxergar. Mas André desfrutava a música como ninguém e se comunicava através do corpo, das expressões faciais, do sorriso e, principalmente, do olhar. E Fábio não só fala e canta bem, como escuta muito bem. Entende bem o que está acontecendo ao seu redor, usando a sua excelente antena parabólica. Reconhece a quilômetros de distância o som de um pacote de biscoito se abrindo ou do girar da tampa de uma garrafa de refrigerante! Na pandemia, começou a ouvir livros na "Alexa", o que se tornou o seu novo e preferido "hobby". Graças a esta amiga, já pôde ler mais de duzentos livros.
Antigamente, não dizia que meus irmãos eram "atípicos". Os termos eram outros. Foram e vão mudando com o tempo. A ideia, que historicamente evoluiu para melhor, foi a de que eles precisam ser reconhecidos como pessoas que são, que precisamos olhar também para as suas capacidades e atacar as deficiências e as faltas da sociedade. Voltando aos termos, antes, dizia que meus irmãos não eram "normais", que tinham "problema", que eram "especiais". Sobre minha mãe, dizíamos que era "guerreira". Teria um mundo de coisas pra falar sobre esse ponto, com outras perspectivas, mas vou ao que me interessa agora, com um olhar mais terno: o afeto feminino.
Nasci e cresci mergulhada neste rio de afeto. O cuidado da minha mãe (e das cuidadoras do meu irmão) conosco. E, também, o meu cuidado com os meus irmãos. Amava cuidar e me sentia honrada por ser a irmã deles.
No ano em que o André morreu, mergulhei por outras águas deste afeto. Com a Nina e com o câncer, aprendi ainda mais a cuidar e a ser cuidada. E, neste momento, minha mãe e a cuidadora do meu irmão cuidaram de mim e da Nina, ao mesmo tempo.
Ontem, dia 08 de março, foi o Dia Internacional da Mulher. Tive um dia bem cansativo. Alguns imprevistos no trabalho e tive a sorte de receber a ajuda da minha sogra e cunhada, com a Nina. Elas já vão embora na semana que vem - voltam para o Peru - e sentirei saudades de toda a ajuda que me deram nesses dias. No meio da confusão, ontem, pensei um pouco no "cuidado feminino" na minha vida. E acho que seria muito bom se pensássemos mais (e com mais cuidado) sobre esse cuidado, nas nossas vidas.
quarta-feira, 16 de novembro de 2022
Mãe-de-Milhares
Sobre filmes e mães
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O primeiro filme foi "Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo", seguido de "Pequena mamãe" e "Sempre em frente", tendo sido este último o nosso preferido. Nos três, o foco está na relação mãe e filho, em uma mãe distante, ferida pela distância e carência na sua experiência como filha, que tenta seguir em frente e cuidar como pode, reproduzindo, em certa medida, essa distância inicial. Ao longo dos filmes, as mães se afastam, buscando alguma cura, enquanto os filhos, na dolorosa falta e busca pelas mães, tentam também encontrar o seu próprio caminho, a superação e o crescimento, através da sua relação com o mundo e outras pessoas. Ao longo dos filmes, cada indivíduo se transforma e a relação entre mãe e filha (o) também, bem como entre outros familiares, como o avô e o marido/pai de "Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo" e as avós recentemente falecidas nos outros dois filmes.
Apesar das suas diferenças, só consigo pensar agora nas suas familiaridades. Quem é essa mãe? Uma mãe sobrecarregada, que é também uma filha, uma mulher, para além da maternidade, mas que, embora esteja perdida, cansada, alienada de si, precisa continuar cuidando. Mesmo sem saber como fazê-lo, apenas continua fazendo. Até que chega uma hora em que precisa se distanciar do filho. E as três mães dos filmes (assim como no filme "A filha perdida"), no final das contas, acabam retornando.
Parece até que escolhi os filmes pela temática. Mas nem fui eu que escolhi! Nenhum deles (nem "A filha perdida")! Apenas topei assistir com o Nollan, sem nem saber direito sobre o que se tratavam. E achei interessante a coincidência, não só em relação ao tema dos filmes, como também pelo fato de estar afastada da Nina nesses dias e por toda a identificação que rolou. Tanto a digerir, que somente escrevendo e escrevendo mais para poder amarrar melhor e a curar mais também. Terá, no entanto, que ficar para outro momento. Agora preciso dormir, para amanhã voltar ao quartinho da bagunça e preparar o retorno da Nina.
Lá em Chochô é tudo ao contrário
Você já ouviu falar no planeta Chochô (se fala "tchô tchô", porque é uma palavra em espanhol)? Lá é tudo ao contrário. Existe até uma musiquinha sobre esse planeta, não sei se já ouviu. É mais ou menos assim (não sei como escrever a melodia, pois não sei nada de teoria musical, mas você também não deve saber. Ah, sim, é a mesma melodia da abertura do desenho "Peppa Pig"):
"Lá em Chochô/ É tudo ao contrário/ Lá em Chochô/ Eu me chamo Zé/ Lá em Chochô, chuto com a cabeça/ Lá em Chochô, penso com os pés"
Conseguiu cantar?
Bom, em Chochô, os adultos são crianças e vice-versa, e existem uns animais bem divertidos, tipo "borboleta-dinossauro". É, esse tem um nome até engraçado, mas não é nada divertido. Na verdade, a "borboleta-dinossauro" é um ser bem assustador. Imagine uma borboleta do tamanho de um dinossauro bem grande. Eu sei que você nunca viu um dinossauro, nem grande, nem pequeno (e nem eu), mas tente imaginar... Agora imagine bracinhos curtos e uma cauda grande, como de um tiranossauro. E, claro, um rugido como de um tiranossauro. E, sim, embora seja enorme, a borboleta-dinossauro consegue voar, não só por causa do seu formato, mas também porque lá não tem a mesma gravidade que aqui. Tem razão, Chochô pode ser bem perigoso. Na realidade, eu não o conheço pessoalmente. Acho bem curioso, mas não sei se teria coragem de visitá-lo. Você teria?
Uma curiosidade bem curiosa é a língua deles. Mamãe é "Mapu", papai é "Chauenky" ("tchauenqui"), filha é "Rapu", vovó é "Mapu-mapu" e te amo muito é "faifi ráicon". Mas isso é quando eles querem desdizer, porque quando querem dizer, na verdade, eles desdizem. Eu ficaria completamente perdida em Chochô! Por falar nisso, as placas de lá servem mesmo é para desorientar a gente! Pode imaginar?
De qualquer forma, acho muito difícil que a gente um dia consiga ir até lá! Chochô fica bem longe da Terra! Fica longe mesmo! Tão longe, mas tão longe, que a minha filha me dizia que me amava daqui até Chochô, ida e volta! E, se tem alguém nesse mundo que conhece Chochô, esse alguém é ela!
terça-feira, 11 de janeiro de 2022
a filha perdida
Acabei de ver esse filme, mas não sei se quero falar sobre ele ou sobre o sentimento ou apenas gostaria de escrever o que viesse à mente. O filme foi angustiante, um pouco aterrorizante. Fala de maternidade, de paternidade, sobre abandono, sobre filhos, sobre crianças, sobre meninas fofas e meninas chatas, sobre choro, sobre loucura, sobre estar à beira da loucura, sobre o medo de surtar, sobre o surto, sobre culpa, medo, sexo, sobre mulher... a filha perdida, quem era? A personagem principal, quando criança, representada pela boneca? Quantas coisas poderíamos falar a partir do filme? Mas, sim, me identifiquei com a mãe, com diversas questões. Teve um momento em que o marido insiste em dar uma comida pra ela. No início ela não quer, mas, com a insistência dele, ela acaba aceitando, mas com certa revolta, porque ele não vê o seu desejo, ele não a vê. Me identifiquei com essa cena também. A busca compulsiva das filhas pelas mães, principalmente quando estas precisam ficar sozinhas e não estão conseguindo dar atenção. Um ciclo vicioso. Já passei por isso também. Já me senti sádica, má, ao não conseguir atender a minha filha. A boneca é assombrosa, assustadora. É o passado? É o inconsciente? É aquele quartinho da bagunça, o sótão, em que enfiamos coisas que não queremos mais ver, mas também que não conseguimos jogar fora? Da boneca sai uma gosma, sai uma minhoca... o que representa? Num primeiro momento, pensei na experiência intensa que temos com o bebê mesmo, que baba, vomita, caga, mija... mas e a minhoca saindo da boca? É o terror? É a morte? O terror pela morte da mãe? Pelo abandono? O terror por morrer? Por não dar conta de cuidar de alguém tão vulnerável, quando também se é vulnerável? É o desejo pela morte, é a morte simbólica, é a morte em si? Pois o filme fala também sobre o envelhecer. A mulher "velha" (48 anos) observando a mulher jovem, lembrando de sua juventude, agora como espectadora apenas, e que sente inveja, ressentimento, frustração, raiva, que quer descontar esse sentimento em alguém. Mais uma vez a invisibilidade, mas, antes, na juventude, ao menos as filhas a desejavam. Tanta coisa poderia sair daqui, de mim. Não sobre o filme, mas sobre mim, sobre esse assunto. Mas tô com sono e, ao mesmo tempo, é como se não tivesse nada para falar, um vazio bem grande.
sábado, 6 de junho de 2020
Imaginação e criatividade éticas
quarta-feira, 1 de abril de 2020
La vida nos da sorpresas...
Durante o nosso luto, nos distraímos fazendo o enxoval e o chá de bebê da minha filha e, nesse período, descobri uma íngua na axila e um caroço na mama esquerda. O médico me disse que era comum na gestação, mas só por desencargo, pediu uma ultra, que fui fazer apenas quando examinar o "caroço" tornou-se urgente, no final da gravidez. Lá fui eu sozinha de ônibus, barrigudona, fazer uma ultra na Barra da Tijuca, que era onde tinha data disponível... E lá minha vida já começou a ficar um tanto diferente...
Resumindo bem a história, na semana seguinte, num dia descobri que estava mesmo com câncer de mama e, no outro, a Nina teve que nascer por cesárea. E após algumas buscas e consultas médicas, chegamos a conclusão que eu faria quimioterapia e cirurgia, mas que até o plano liberar o tratamento, poderia ter o gostinho de amamentar minha filha. Saindo do hospital, tive que ir morar com meus pais e tudo aconteceu bem diferente dos tantos planos feitos durante a gestação. Nesse período, precisei ficar de licença médica no trabalho e pude curtir bastante minha filha, apesar das dificuldades inesperadas. Foi na casa dos meus pais, nesse momento caótico e intenso da minha vida, em que ouvi o barulho das panelas e acompanhei, sofrendo, o impeachment da Dilma.
Em janeiro de 2017, voltamos para nossa casa, Nina entrou para a escola, eu voltei a trabalhar e no final do ano passei para o mestrado em direito na UFRJ, que começaria no ano seguinte. As coisas estavam caminhando e eu tentando voltar aos eixos, até que chegou 2018 e o inimaginável aconteceu... Bolsonaro não apenas se candidatou, como foi eleito, depois de muitas brigas, decepções e sofrimento.
O clima aqui é quase de "fim do mundo", nos isolando totalmente, estocando comida. Meu pai, considerando as piores previsões, pede que todos saibamos fazer tudo na casa e estamos tentando dividir tarefas, além dos cuidados com a Nina.
Estou me lembrando muito do período em que comecei o tratamento do câncer na casa dos meus pais, tendo que respirar fundo e tentando não pensar no futuro e nos piores cenários. Ainda tenho que tratar o câncer no Rio ou em Niterói e talvez tenha que sair do isolamento e não sei se poderemos voltar. Aqui está muito difícil de terminar minha dissertação, com o estresse e angústia do momento e outras questões que me dificultam a concentração.
Pelo menos para a Nina o coronavírus tem sido algo positivo, pois está na "casa da Chiquita e do Bacana", que ela tanto gosta, com toda família, sem ir para a escola, fez uma amiga nova (a Maria Isabel, de 10 anos), que passa o dia com ela, e, hoje, dia primeiro de abril, aprendeu a nadar e está toda feliz! 💗
segunda-feira, 22 de outubro de 2012
2012
quarta-feira, 13 de junho de 2012
Bukowskiando
terça-feira, 1 de maio de 2012
Minha tribo sou eu
terça-feira, 13 de setembro de 2011
Que gostaria você de sonhar esta noite?
quarta-feira, 7 de setembro de 2011
Raulzito e o 7 de setembro
Embandeiradas
Que separam quintais
No cume calmo
Do meu olho que vê
Assenta a sombra sonora
De um disco voador...
(OBS: Esse post faz referência a outro: Em outra galáxia )
terça-feira, 21 de junho de 2011
No cume calmo do meu olho que vê
segunda-feira, 13 de junho de 2011
A preguiça; as viagens
domingo, 12 de junho de 2011
Em outra galáxia
Infelizmente, o sonho foi muito rápido e não deu pra aprender mais nada sobre o planeta. Da próxima vez, vou tentar ir prum país menos barulhento.
quinta-feira, 2 de junho de 2011
E é tão bom não ser divina...
sábado, 28 de maio de 2011
Pela lente das metáforas
quinta-feira, 28 de abril de 2011
Preconceito pode causar câncer
Deus: ainda tenho minhas dúvidas.
terça-feira, 19 de janeiro de 2010
Ciência ética
Somos responsáveis por tudo que criamos, mas queremos passar a nossa responsabilidade para o grande deus, o “Progresso”. Tudo em nome dele. Onde chegamos com essa lógica? Muitos poderao dizer: tudo tem seu preço, os fins justificam os meios. Será? Será mesmo que o caminho que a gente percorreu foi uma etapa necessária para um estado mais evoluído? Evoluído em que sentido?
A nossa capacidade de criar nao é boa em si. Brincar de criar, seja para trazer a justiça, ou para trazer injustiça, para melhorar a qualidade de vida, ou para matar, é igualmente legítimo? Pensar assim é pensar de forma completamente irresponsável e burra.
A ciência deve servir à Humanidade. Ou seja, ela nao está acima dos homens, e nao deve ser pensada em prol de alguns em detrimento de outros. E, lógico, uma ciência ética é também uma ciência ecológica, pois os homens sao parte da natureza.
Autotélica?
A brincadeira, por exemplo, tem um caráter autotélico. Ou seja, nao se brinca para alcançar algo depois, brinca-se por brincar. A brincadeira tem um fim em si mesma, ao contrário de uma tarefa da escola, que é feita para se alcançar algo, que a criança muitas vezes nem imagina o quê.
Pensando nisso, descobri outra coisa que, para mim, tem um caráter autotélico: a vida. Ela nao é um meio, pelo qual se “paga” pela “vida anterior” ou no qual preparamos as nossas “próximas vidas” ou nosso “lugar no paraíso”. Nao é consequência, nem causa. Vivemos por viver, como na brincadeira.
Quando comparo a vida com a brincadeira, nao quero dizer que tem alguém jogando com a gente (um Deus) e que somos apenas peças. Quem brinca somos nós, apenas por brincar. Brincando, em alguns momentos perdemos, outros ganhamos, choramos, nos divertimos, fazemos parcerias, seguimos regras, assim como as desrespeitamos... Na brincadeira, uns saem para outros entrarem.
E o jogo continua...
(Junho de 2009)