terça-feira, 11 de janeiro de 2022

a filha perdida

Acabei de ver esse filme, mas não sei se quero falar sobre ele ou sobre o sentimento ou apenas gostaria de escrever o que viesse à mente. O filme foi angustiante, um pouco aterrorizante. Fala de maternidade, de paternidade, sobre abandono, sobre filhos, sobre crianças, sobre meninas fofas e meninas chatas, sobre choro, sobre loucura, sobre estar à beira da loucura, sobre o medo de surtar, sobre o surto, sobre culpa, medo, sexo, sobre mulher... a filha perdida, quem era? A personagem principal, quando criança, representada pela boneca? Quantas coisas poderíamos falar a partir do filme? Mas, sim, me identifiquei com a mãe, com diversas questões. Teve um momento em que o marido insiste em dar uma comida pra ela. No início ela não quer, mas, com a insistência dele, ela acaba aceitando, mas com certa revolta, porque ele não vê o seu desejo, ele não a vê. Me identifiquei com essa cena também. A busca compulsiva das filhas pelas mães, principalmente quando estas precisam ficar sozinhas e não estão conseguindo dar atenção. Um ciclo vicioso. Já passei por isso também. Já me senti sádica, má, ao não conseguir atender a minha filha. A boneca é assombrosa, assustadora. É o passado? É o inconsciente? É aquele quartinho da bagunça, o sótão, em que enfiamos coisas que não queremos mais ver, mas também que não conseguimos jogar fora? Da boneca sai uma gosma, sai uma minhoca... o que representa? Num primeiro momento, pensei na experiência intensa que temos com o bebê mesmo, que baba, vomita, caga, mija... mas e a minhoca saindo da boca? É o terror? É a morte? O terror pela morte da mãe? Pelo abandono? O terror por morrer? Por não dar conta de cuidar de alguém tão vulnerável, quando também se é vulnerável? É o desejo pela morte, é a morte simbólica, é a morte em si? Pois o filme fala também sobre o envelhecer. A mulher "velha" (48 anos) observando a mulher jovem, lembrando de sua juventude, agora como espectadora apenas, e que sente inveja, ressentimento, frustração, raiva, que quer descontar esse sentimento em alguém. Mais uma vez a invisibilidade, mas, antes, na juventude, ao menos as filhas a desejavam. Tanta coisa poderia sair daqui, de mim. Não sobre o filme, mas sobre mim, sobre esse assunto. Mas tô com sono e, ao mesmo tempo, é como se não tivesse nada para falar, um vazio bem grande.