quarta-feira, 16 de novembro de 2022

Mãe-de-Milhares



Essa planta já estava no "jardim" daqui de casa, quando nos mudamos. Eu deixei ela lá e as outras também e plantei outras e outras  nasceram e se reproduziram sei lá como. Sementes que vieram na terra que jogamos lá? Que vieram com os passarinhos que fazem da nossa varanda um ponto de parada, pra descansar, olhar, ponderar, conversar, brigar, fazer xixi e cocô? Eu gosto de fazer do jardim uma espécie de laboratório, um laboratório científico-filosófico. E, observando essa planta, me dei conta dessas mini plantinhas penduradas nela. Me dei conta que são seus filhos e que ela é uma mãezona. E, observando mais atentamente, notamos que embaixo dela uma filha criou suas raízes. Que legal! As plantinhas filhotes caem, algumas longe (como?), outras perto, e algumas vão pra frente e outras não. Comecei a chamar essa planta de mamãe, mas Nollan disse que podia ser um pai. Bom, não sei se essa pergunta faz sentido, no caso desta planta, mas descobri no Google que o nome dela é "Mãe-de-Milhares" e que ela é uma planta medicinal, de cura, mas que também é tóxica. E eu estou numa grande viagem em que tudo se conecta e faz sentido. Essa plantinha que ficou embaixo da mãe, perto, a sua sombra, será que ela vai pra frente? Enfim, o quanto devemos prender, segurar, controlar os nossos filhos? O quanto devemos soltar? Até onde o nosso amor cura? Quando começamos a ser tóxicas? Quando o nosso amor aniquila os nossos filhos? Nina quer ficar mais tempo com a avó. Está gostando da "folga". E eu estou conseguindo parar, digerir e até escrever um pouco. Essa separação sempre trouxe sentimentos contraditórios. Ela traz um medo do abandono, uma perda de amor à espreita, por um lado, e um sentimento de liberdade e de possibilidade de florescimento, por outro. Para a mãe e para a filha. É uma separação natural e importante. É um ensaio de uma separação maior, é mais um passo de distância. E o retorno? Como se dá esse retorno? Como se dará? Terá sentimento de culpa? Terá cobrança, chantagem emocional? Medo de rejeição? Medo da aniquilação materna/paterna? Como fazer para que esse movimento todo aconteça em uma espécie de espiral ou espirais? Como fazer com que o crescimento dos nossos filhos seja menos doloroso para todos?

Sobre filmes e mães

      
Geralmente, quando estou com a Nina, minha filha, não consigo ver filmes (a não ser os de criança). Aí, quando estou sem ela, tento tirar o atraso. Tentamos, eu e Nollan. Principalmente quando queremos procrastinar. E, nesse feriado, em que estive presa em casa com COVID e tendo que arrumar o quartinho da bagunça, assistimos a três filmes! E, por coincidência (ou não), os três eram sobre parentalidade, enfocando na relação mãe-filho.

O primeiro filme foi "Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo", seguido de "Pequena mamãe" e "Sempre em frente", tendo sido este último o nosso preferido. Nos três, o foco está na relação mãe e filho, em uma mãe distante, ferida pela distância e carência na sua experiência como filha, que tenta seguir em frente e cuidar como pode, reproduzindo, em certa medida, essa distância inicial. Ao longo dos filmes, as mães se afastam, buscando alguma cura, enquanto os filhos, na dolorosa falta e busca pelas mães, tentam também encontrar o seu próprio caminho, a superação e o crescimento, através da sua relação com o mundo e outras pessoas. Ao longo dos filmes, cada indivíduo se transforma e a relação entre mãe e filha (o) também, bem como entre outros familiares, como o avô e o marido/pai de "Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo" e as avós recentemente falecidas nos outros dois filmes.

Apesar das suas diferenças, só consigo pensar agora nas suas familiaridades. Quem é essa mãe? Uma mãe sobrecarregada, que é também uma filha, uma mulher, para além da maternidade, mas que, embora esteja perdida, cansada, alienada de si, precisa continuar cuidando. Mesmo sem saber como fazê-lo, apenas continua fazendo.  Até que chega uma hora em que precisa se distanciar do filho. E as três mães dos filmes (assim como no filme "A filha perdida"), no final das contas, acabam retornando.

Parece até que escolhi os filmes pela temática. Mas nem fui eu que escolhi! Nenhum deles (nem "A filha perdida")! Apenas topei assistir com o Nollan, sem nem saber direito sobre o que se tratavam. E achei interessante a coincidência, não só em relação ao tema dos filmes, como também pelo fato de estar afastada da Nina nesses dias e por toda a identificação que rolou. Tanto a digerir, que somente escrevendo e escrevendo mais para poder amarrar melhor e a curar mais também. Terá, no entanto, que ficar para outro momento. Agora preciso dormir, para amanhã voltar ao quartinho da bagunça e preparar o retorno da Nina.



Lá em Chochô é tudo ao contrário


Você já ouviu falar no planeta Chochô (se fala "tchô tchô", porque é uma palavra em espanhol)? Lá é tudo ao contrário. Existe até uma musiquinha sobre esse planeta, não sei se já ouviu. É mais ou menos assim (não sei como escrever a melodia, pois não sei nada de teoria musical, mas você também não deve saber. Ah, sim, é a mesma melodia da abertura do desenho "Peppa Pig"): 

"Lá em Chochô/ É tudo ao contrário/ Lá em Chochô/ Eu me chamo Zé/ Lá em Chochô, chuto com a cabeça/ Lá em Chochô, penso com os pés"

Conseguiu cantar?

Bom, em Chochô, os adultos são crianças e vice-versa, e existem uns animais bem divertidos, tipo "borboleta-dinossauro". É, esse tem um nome até engraçado, mas não é nada divertido. Na verdade, a "borboleta-dinossauro" é um ser bem assustador. Imagine uma borboleta do tamanho de um dinossauro bem grande. Eu sei que você nunca viu um dinossauro, nem grande, nem pequeno (e nem eu), mas tente imaginar... Agora imagine bracinhos curtos e uma cauda grande, como de um tiranossauro. E, claro, um rugido como de um tiranossauro. E, sim, embora seja enorme, a borboleta-dinossauro consegue voar, não só por causa do seu formato, mas também porque lá não tem a mesma gravidade que aqui. Tem razão, Chochô pode ser bem perigoso. Na realidade, eu não o conheço pessoalmente. Acho bem curioso, mas não sei se teria coragem de visitá-lo. Você teria?

Uma curiosidade bem curiosa é a língua deles. Mamãe é "Mapu", papai é "Chauenky" ("tchauenqui"), filha é "Rapu", vovó é "Mapu-mapu" e te amo muito é "faifi ráicon". Mas isso é quando eles querem desdizer, porque quando querem dizer, na verdade, eles desdizem. Eu ficaria completamente perdida em Chochô! Por falar nisso, as placas de lá servem mesmo é para desorientar a gente! Pode imaginar?

De qualquer forma, acho muito difícil que a gente um dia consiga ir até lá! Chochô fica bem longe da Terra! Fica longe mesmo! Tão longe, mas tão longe, que a minha filha me dizia que me amava daqui até Chochô, ida e volta! E, se tem alguém nesse mundo que conhece Chochô, esse alguém é ela!